Ação empreendedora na pandemia

Por Lucas Zamo e Guilherme Teixeira

 

Como o sistema de preços possibilita o suprimento das demandas da sociedade através da livre iniciativa



Um significativo percentual da população brasileira encontra-se em quarentena por conta do risco de contaminação do coronavírus. Até o momento da publicação deste texto (11/04/2020) já foram registrados no Brasil mais de 20 mil casos e cerca de mil mortos. Ao mesmo tempo, desde o início do isolamento social, a iniciativa privada tem assumido a responsabilidade de auxiliar de diferentes formas, compartilhando da  mesma preocupação da população em frear o avanço da doença e amenizar os impactos do Sars-Cov-2. 

Veremos agora o que o setor privado está fazendo para ajudar os indivíduos e por que isso somente é possível devido à ação empreendedora, motivada pela observação de oportunidades de lucro que ainda não foram devidamente aproveitadas e promovendo melhorias econômicas.

 

Entre diversas iniciativas empresariais no financiamento e apoio à estrutura de saúde nacional, a de maior destaque foi a do Banco Itaú, que realizou a doação de R$ 150 milhões destinados ao investimento na infraestrutura de hospitais, compra de kits de higiene e alimentação. Outrossim, a Marfrig doou R$ 7,5 milhões para o Ministério da Saúde, que serão utilizados para a compra de 100 mil testes do novo coronavírus, enquanto a Vale realizou a doação de 5 milhões de testes rápidos, além de estar provendo equipamentos de proteção individual, como luvas e máscaras, para profissionais da saúde.

 

Também estão ocorrendo doações para regiões específicas: 

 As Lojas Renner doaram R$ 4,1 milhões para compra de insumos em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e São Paulo; 

 A MRV, o Banco Inter e a Log doaram R$ 10 milhões para compra de respiradores mecânicos em hospitais de Minas Gerais;

 A Magazine Luiza também entrou na lista de empresas doadoras, concedendo respiradores e monitores cardíacos para o SUS de São Paulo e 4.000 colchões e travesseiros para os governos estaduais de Pará e Bahia, totalizando R$ 10 milhões.

 

Além disso, temos várias outras empresas, como a Hering e Arezzo, produzindo máscaras e equipamentos de proteção, e como a Suzano e Klabin, produzindo ventiladores pulmonares que serão doados para hospitais. Todos os custos envolvendo a produção e distribuição destes equipamentos tão importantes para profissionais e pacientes estão sendo arcados pelas próprias companhias.

 

No que diz respeito à higiene pessoal e hospitalar, a empresa que mais se destaca é a Ambev, que está produzindo um milhão de unidades de álcool em gel e doando para hospitais de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Enquanto isso, Avon, Natura, São Martinho, Ypê, Weg e outras companhias também iniciaram suas produções do mesmo produto e realizarão a doação das suas produções para hospitais de vários estados do Brasil.

Outra iniciativa voltada para a prevenção do coronavírus por meio da higiene pessoal é a doação de 4,8 milhões de sabonetes por parte da Natura, Avon e JBS e as 21 toneladas de sabão encaminhadas pela Ypê para comunidades carentes em São Paulo. Além disso, a Unilever doou 2,6 milhões de produtos de higiene e limpeza para os estados de Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro.

 

A maior parte das atividades realizadas pelas companhias são focadas em EPIs, equipamentos hospitalares e produtos de higiene, porém, os maiores bancos do país, como Bradesco, Itaú e Santander, e fintechs como Nubank e Banco Inter, disponibilizaram medidas de suporte financeiro a seus clientes. Fora isso, a XP Investimentos e um grande número de empresários doaram produtos de higiene e alimentação à comunidades carentes.

 

No entanto, a destinação de recursos por parte das empresas para doação de itens específicos e para processos de produção de equipamentos só é possível quando há um sistema de preços livre de intervenção estatal e enquanto os indivíduos têm liberdade para encontrar espaços no mercado para empreender.

Uma empresa, diferentemente do que se pensa rotineiramente, não realiza ações filantrópicas porque é motivada por uma espécie de iluminação divina, a qual ilumina o empreendedor no caminho de uma boa ação. Por mais que o agente humano gestor da empresa seja imbuído de boa vontade e ativo no combate às dificuldades sociais, suas empresas não realizariam boas ações sem uma previsão de retorno futuro. A reflexão mais importante a ser feita é que não existe problema algum nisso.

Se a sociedade compreende que a ação solidária é o resultado da boa índole de uma instituição, naturalmente estará disposta a recompensar essa instituição com prestígio futuro. Quando essas instituições são empresas, esse prestígio é transformado em uma maior valorização futura dos produtos daquelas empresas, a qual é refletida em maior receita para a mesma. Ou seja, a ação solidária de uma empresa só ocorre porque ela visualiza que, por meio de tal ação, conseguirá uma melhor reputação do que possui no momento. No final das contas, a ação é motivada pelo lucro e toda a população sai ganhando com a proatividade da organização.

Em um mercado extremamente regulado é demasiadamente complicado para uma empresa aventurar-se em ações filantrópicas. Inicialmente, os valores disponíveis para doação já serão mais curtos por conta da redução da lucratividade da empresa por conta da elevada – e mal utilizada – tributação nacional. Além disso, tentativas de congelamento de preços e saqueamentos de estoques das indústrias somente prejudicam o bem-estar financeiro da empresa, a qual tenderá a optar por não doar nada por conta da redução drástica da sua capacidade de pagamento e da sua oferta disponível. 

Contudo, não é somente nas doações que a intervenção governamental é prejudicial para o combate de uma crise. Primordialmente, um dos indicadores para que as empresas saibam quais bens elas precisam produzir, para lucrar ou fazer uma boa ação em um momento como esse, é o preço do bem no mercado, o qual é apenas uma “taxa de câmbio” – ou um ponto de acordo entre compradores e vendedores – determinado pela oferta e demanda. Se a quantidade de compradores de um item aumenta, enquanto a quantidade de vendedores permanece a mesma, o preço deste item tende a aumentar para que não ocorra um excesso de demanda, que consequentemente resultaria em escassez deste produto.

Então, quando o estado intervém no mercado, congelando o preço de um produto, ou seja, impedindo que aquele produto seja vendido por um preço mais alto do que um preço-teto estipulado arbitrariamente, os investidores das empresas tenderão a alocar seu capital em atividades que deem uma maior rentabilidade e não estejam com preços congelados. Devido a isso, esta atitude burocrata acabará prejudicando os dois lados: para o comprador haverá escassez do produto; para o vendedor, não haverá estímulo para a comercialização daquele item. Logo, se não há um sistema de preços de livre-mercado, os empresários não podem alocar recursos de maneira racional e produzir os produtos que estão sendo demandados, fazendo com que ocorra falta deste bem para os clientes.

E, além disso, como falado anteriormente, os indivíduos devem ser livres para empreender pois, como cada um valora determinado bem de maneira distinta e as demandas pessoais podem mudar a cada instante, criam-se oportunidades para a ação empreendedora que tendenciam o mercado para uma situação de maior equilíbrio do que o mesmo estava antes desta ação. Um exemplo que é válido de ser citado é o caso do álcool em gel, cujo aumento da demanda provocou um aumento do preço do produto. Com essa alta no preço, empreendedores verificam a crescente taxa de retorno de investimentos na produção desse bem e tendem a alocar seu capital em sistemas produtivos de álcool em gel. Devido a este aumento na oferta, há uma queda no preço do bem, pois há mais concorrentes no mercado oferecendo o mesmo produto, ou seja, também há um ganho para os consumidores com a entrada de um novo “competidor” no setor, sendo algo benéfico para as duas pontas.

 

Logo, se a economia é muito burocratizada, os preços dos bens não podem flutuar livremente de acordo com sua oferta e demanda e os indivíduos não têm incentivo para empreender. Assim, o mercado não vai se ajustar rapidamente para atender as necessidades das pessoas, especialmente em eventos inesperados como uma pandemia, e a prosperidade econômica de todos será menor do que seria se tais restrições não existissem.

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