Segundo o economista austríaco Ludwig Von Mises, o grande acontecimento do século XIX foi a expansão do investimento externo, que permitiu o verdadeiro crescimento das nações ao redor do mundo, uma vez que o processo de desenvolvimento tecnológico se tornou cada vez mais rápido e eficiente. Entende-se por investimento externo toda a entrada de capital estrangeiro no país, seja esse de pessoas físicas ou pessoas jurídicas, por meio de fusões e aquisições, construção de novas instalações, reinvestimento de lucros auferidos em operações no exterior e empréstimos intercompany – de qualquer forma, representando um divisor de opiniões no campo das Ciências Econômicas.

Por meio da defesa do capital externo, os “livre-mercadistas” – com ênfase, neste artigo, na Escola Austríaca – entenderam que esse tipo de investimento se soma ao montante interno, traduzindo-se em geração de empregos para a população e, consequentemente, mais renda e desenvolvimento. Esse processo diminui a distância entre os países emergentes e os mais desenvolvidos, já que representa um aumento de riqueza multilateral gerado pela ampliação dos mercados – um exemplo claro foi a construção de ferrovias e de companhias de gás em países da Europa, que possibilitaram iluminação e eficiência no transporte, promovidas pelo capital britânico.

A partir das ideias austríacas, serão analisados alguns dos principais argumentos daqueles que reconhecem o investimento vindo do exterior como prejudicial para a economia de um país. Primeiramente, costuma-se defender que a abertura do mercado gera uma concorrência injusta, já que as empresas estrangeiras podem apresentar maior desenvolvimento tecnológico, prejudicando as empresas locais e, consequentemente, o mercado interno.

A lógica citada não faz sentido no momento em que interpreta a competição com o exterior como prejudicial, porque se a empresa estrangeira tiver melhores condições de se manter no mercado, mesmo que possa causar a falência de empresas internas, ela será a responsável pelo aumento do custo-benefício (muitas vezes, com a diminuição dos preços), além do aumento do bem-estar dos consumidores e da disseminação de novas ideias e práticas no mercado interno – logo, o cenário nacional se fortalece.

Outro ponto levantado está ligado à ideia de que os lucros, ao serem remetidos ao exterior, inviabilizam um maior desenvolvimento da economia nacional. Entretanto, mesmo que boa parte do benefício saia do país, os empregos gerados, bem como o fortalecimento do mercado citado acima, ainda são mais vantajosos do que depender somente do que a economia interna tem a oferecer à população.

As propostas relacionadas à proteção de direitos e garantias trabalhistas, ambientais e comerciais também rejeitam o investimento externo por entenderem que a abertura dos mercados anda ao lado das flexibilizações econômicas e sociais. Essa relação se comprova, de fato, já que a entrada de capital depende de regulações favoráveis ao comércio internacional e à possibilidade de lucrar. O equívoco desse pensamento, portanto, se dá na negação de que esse conjunto de garantias representa entraves para qualquer crescimento econômico.

Outro argumento contrário à entrada de recursos estrangeiros refere-se à simples constatação de que os investimentos vindos do exterior estão, geralmente, ligados a interesses privados que buscam o lucro “fácil” e a valorização de seu capital, que podem ser, segundo essa visão, interesses opostos aos internos – consolidando-se como um risco à soberania nacional. Entretanto, o que, além do lucro (recompensa pelo processo produtivo), deve ser o motivo de atração dos investidores? O que há de tão ilegítimo em valorizar seu capital, de acordo com méritos próprios? Mais uma vez, ignora-se o benefício da abertura dos mercados por culpa da cegueira ideológica: nota-se a mentalidade anticapitalista deturpando as consequências econômicas das políticas comerciais.

Assim, conclui-se que é preciso encorajar e estimular o investimento estrangeiro, pois o interesse de acumulação de outros países aumenta o crescimento das empresas, nivela as economias de escala em mercados domésticos e sempre promove vantagens, proporcionando maior produtividade, rentabilidade e geração de riqueza.

A aversão ao lucro, por outro lado, cria a falsa percepção de que a soberania de um país se traduz em uma economia interna que trilha seus próprios caminhos, sem auxílio externo algum. Até quando essa mentalidade anticapitalista vai continuar impedindo o mundo de se desenvolver?

É preciso sempre se ater aos fatos: A verdadeira soberania pertence aos países que se permitem desenvolver e crescer economicamente.

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