O que difere pessoas comuns, que vemos todos os dias, dos grandes revolucionários? Poderíamos enumerar infindáveis características, mas creio que citar apenas duas se faça suficiente neste momento: Visão sistêmica e protagonismo.

Por visão sistêmica entende-se, basicamente, a capacidade de olhar o todo, entender como o sistema funciona, ver o que funciona bem e o que poderia ser melhorado. É também viver em sociedade e ser capaz de olhar para o lado, ver os acertos, os erros e analisar os problemas a fundo, ou seja, procurar suas causas. É nesse contexto que os grandes homens surgem e a mudança social começa.

Por quê?  Porque é nesse momento que o indivíduo precisa tomar uma decisão: agir ou não. E é a resposta desta simples pergunta que nos mostra os novos grandes homens, simplesmente porque as pessoas que mudam o mundo são as inconformadas, as que creem na possibilidade de mudança, as que decidem agir, as protagonistas. De forma bem simples, pode-se dizer que protagonismo é buscar sempre os problemas e suas soluções em si. Qual foi o meu erro? Como eu agravo o problema? Como eu posso solucionar um problema?

Trago este tema para discussão simplesmente porque o Brasil está carente de pessoas assim. É fácil achar críticos, mas difícil achar agentes transformadores, porque criticar é fácil e, mais que isso, parece que as pessoas caíram na tentação de se iludir, de crer que ao tomar consciência do problema e decidir quem você considera culpado é agir em prol da melhora social. Ver o problema e achar um culpado é muito importante, mas apenas isto não é suficiente. Como já dito, é necessário ver o que você pode fazer para solucionar este problema, e então começar a agir.

Essas duas características, visão sistêmica e protagonismo, tem motivado um novo movimento corporativo: o empreendedorismo social.  Mas o que é isso?  De maneira simplificada, Débora Basso explica: “entre ganhar dinheiro e mudar o mundo, os jovens ficam com os dois”. De forma mais técnica, Muhammad Yunus nos explica através de 7 princípios:

  1. Combate à pobreza: o objetivo da empresa deve ser combater a pobreza ou problemas relacionados a ela (como os de educação, saúde, acesso à tecnologia e ambientais) que ameaçam as pessoas e a sociedade. A maximização do lucro não faz parte das metas do negócio.
  2. Sustentabilidades financeira e econômica: o empreendimento deve cobrir todos os custos, sem depender de aportes financeiros externos, enquanto alcança seu objetivo social em setores como saúde, educação, combate à pobreza, meio ambiente, habitação, mudanças climáticas etc.
  3. Investidores recuperam apenas o valor investido: não há pagamento de dividendos além do valor inicialmente investido. Em um negócio social, os acionistas podem gradualmente recuperar os recursos aplicados, mas não recebem nenhum dividendo extra. O objetivo do investimento é alcançar uma ou mais metas sociais por meio das operações da empresa – investidores não almejam ganhos pessoais.
  4. Lucro reinvestido: após o pagamento dos valores investidos, o lucro da empresa é reinvestido na expansão ou melhora do negócio, visando aumentar seu impacto social.
  5. Consciência ambiental: mesmo que a área de atuação do negócio social não seja relacionada ao meio ambiente, é fundamental ter as questões ambientais em mente (e no plano de negócio). Não faz sentido atuar para resolver problemas sociais, sendo ecologicamente incorreto.
  6. Bons salários e condições de trabalho: como na questão ambiental, é fundamental garantir ao menos a média salarial do mercado aos funcionários do negócio social, mas sempre com melhores condições de trabalho. Além de fazer o bem para os públicos externos, uma empresa social também melhora a vida de quem está dentro de casa.
  7. Faça com prazer: ao entrar para o mundo dos negócios sociais, escolha uma área que te desperte paixão, que faça sentido na sua vida. Assim, será mais fácil alcançar o sucesso e impactar positivamente a vida de outras pessoas.

Muhammad Yunus, nascido no ano de 1940 em Bangladesch, vindo de uma família pobre de 14 filhos, foi incentivado pelo pai a estudar e pela mãe a acabar com a pobreza. Em 1970 formou-se PhD em Economia nos EUA, e em 1972 voltou à Bangladesch para ministrar Teoria Econômica na Universidade de Chittagong. Mesmo assim não estava feliz, porque por mais que adorasse ensinar, não via nas teorias a solução dos problemas de seu povo, que morria de fome. Decidiu, então, estudar a comunidade local e descobriu que estas pessoas tinham dificuldade em sobreviver devido a falta de capital e impossibilidade de obter empréstimos nos bancos comerciais, por não poderem oferecer garantias, entre outras causas.

Ao explorar mais a comunidade, Yunus encontrou um grupo de 41 pessoas que tinham pequenas atividades produtivas, que trabalhavam em condições escravas e dependiam de empréstimos de agiotas que cobravam juros extremos. Foi então que Yunus resolveu emprestar de seu próprio dinheiro US$ 27,00 nas mesmas condições dos bancos comercias. Surpreendeu-se no final do prazo do empréstimo ao receber todo o dinheiro de volta, inclusive com o pagamento dos juros. A partir disso cria-se o projeto conhecido como Grameen Bank e o conceito de microcrédito. Desde sua fundação já foram emprestados US$ 5,7 bilhões, e o banco apresenta apenas 1% de inadimplência. Atualmente, 94% do capital do Banco pertence aos tomadores de empréstimos e 6% ao governo. Yunus ganhou um Prêmio Nobel da Paz em 2006.

Este é um ótimo exemplo de um homem que revolucionou a sua vida e de muitas outras pessoas literalmente no mundo todo. O que Yunus tem de especial, de diferente? Ele teve capacidade, e mais do que isso, coragem de olhar pro lado e ver os problemas que atingiam seu povo, e escolheu sair da sua zona de conforto, assumir o protagonismo do futuro desta história, decidiu agir. Este é o segredo do sucesso dele e de muitas outras pessoas, e pode ser o seu também. Espero que este breve case possa inspirará-los a sair da sua zona de conforto, a agir, a mudar o mundo.

Fontes: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7

Mayara Fenner é estudante de Economia na Universidade Federal de Santa Maria, e escreve para o site do Clube Farroupilha.

As informações, alegações e opiniões emitidas no site do Clube Farroupilha vinculam-se tão somente a seus autores.

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