A palavra democracia significa “poder do povo”. É a forma de governo que temos hoje e que sempre nos foi ensinada como a melhor. Mas será que a democracia é mesmo a melhor?

Platão, um dos mais importantes filósofos da antiguidade, acreditava que a democracia era a pior forma de governo, porque nem sempre a maioria do povo sabe escolher o melhor representante para governar. Pensemos assim: estamos em um avião e é preciso escolher alguém para pilotar. O que é mais apropriado? Escolher alguém por sua capacidade e conhecimento sobre pilotagem ou escolher alguém que foi eleito pela maioria dos passageiros, podendo essa pessoa não ter conhecimento nenhum sobre? É o que muitas vezes acontece, onde políticos sem instrução e preparação nenhuma para governar um país se elegem por causa de simpatia e frases de efeito – os famosos populistas – que quando chegam ao poder, não têm ideia do que fazer. Por esse motivo, Platão defendia que a democracia certamente entraria em colapso – devido a suas próprias contradições.

Outro filósofo e economista mais recente que não prega a democracia como o “governo do povo” é o alemão Hans-Hermann Hoppe. Hoppe afirma que a democracia é uma ditadura da maioria, porque bastam que 51% de uma população votem em uma pessoa e pronto: os outros 49% não serão representados e terão a vontade de outras pessoas imposta em suas vidas, não tendo sua liberdade individual respeitada.

Além de tudo que foi citado anteriormente, existe outro grande ponto que vai contra a ideia de que a decisão da maioria deveria ser a forma como escolhemos nossos governantes. 

Imagine um cenário hipotético de uma eleição presidencial com dois candidatos. O país fictício deste cenário alimenta 90% de sua população exclusivamente com feijão. Recentemente uma praga destruiu várias plantações deste grão, e diminuiu drasticamente a safra anual, e por consequência as pessoas passaram a reduzir a quantidade diária de consumo. Não foi uma redução tão grande a ponto de causar fome, mas o suficiente para gerar grande desconforto para estas pessoas que nunca precisaram lidar com uma situação como esta.

Por sorte o país tinha uma grande reserva de feijão, com estoques criados durante anos de boas colheitas.

Voltando às eleições, no primeiro debate ambos os candidatos são perguntados qual é a sua proposta para lidar com a crise.

Proposta do Candidato 1:  Distribuir o feijão dos estoques mensalmente para a população, assim todos irão comer a mesma quantidade que comiam antes da crise, talvez até um pouco mais.

Proposta do Candidato 2: Passar por um período apertado, onde todos vão comer menos enquanto o feijão que estava nos estoques é plantado, para que daqui há alguns anos, as safras voltem a ser tão grandes quanto antigamente.

Quais as consequências destas duas propostas? Na primeira, eventualmente os estoques se esgotariam e então o país estaria em uma situação ainda pior do que antes.

Na segunda, todos passariam por tempos de desconforto, mas eventualmente tudo voltaria ao normal e o país inclusive conseguiria reconstruir suas reservas.

Agora eu pergunto a você leitor, em qual dos candidatos você votaria? E qual dos dois você acredita que iria vencer as eleições?

Acredito que dado o cenário e as consequências das propostas dos candidatos, você votaria no segundo. Mas ele iria vencer? Talvez você acredite que sim (Considerando que estamos falando de um país fictício e não do Brasil), afinal não é muito difícil de entender o problema em questão.

Mas e quando o tema não é tão simples assim? 

O que acontece quando você precisa explicar para milhões de pessoas que você não pode simplesmente imprimir dinheiro para subsidiar os altos preços do metal que está deixando os carros mais caros, pois isso iria expandir a quantidade de moeda sem um aumento equivalente de produtividade?

E quando as pessoas precisam entender que as enfermeiras não podem ter um piso salarial, pois isso vai contra as leis do mercado e vai acabar gerando desemprego?

A grande maioria dos assuntos de grande relevância são complexos. E a escolha da maioria dá um incentivo para que os candidatos defendam o que é fácil e não o que é certo. Mesmo que uma pessoa honesta, capacitada e competente se candidate, ela vai precisar defender posições que não são fáceis de engolir. Isso abre uma margem muito grande para que outro indivíduo, incapaz e desonesto, tenha um discurso baseado exclusivamente no que a maioria das pessoas querem ouvir.

Afinal isso é o que vai garantir a sua vitória, isso que vai lhe trazer sucesso, isso é o que é do seu interesse.

É bem provável que o primeiro candidato de nossa eleição hipotética soubesse das consequências ruins de sua proposta, mas ele também sabia que não se elegeria propondo a verdade difícil, então sucumbiu à tentação da mentira confortável.

Afinal, depois de eleito, ele não precisa mais se preocupar por alguns anos. Com certeza não irá faltar feijão para o Presidente. Nas próximas eleições o povo já vai ter esquecido do feijão, e vai estar preocupado com os baixos salários ou algo do gênero.  

Para responder à pergunta que encabeça este artigo: Não. A democracia não é o governo do povo. A democracia é o governo daquele que fala o que o povo quer ouvir, estando ele certo ou não.

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