A série sul-coreana, Round 6, que nos últimos meses ‘’parou’’ a internet batendo recordes de visualizações nas plataformas de streaming ao redor do mundo, teve muito sucesso ao abordar o gênero dramático, com questões psicológicas e morais, unindo um objetivo em comum de diversos indivíduos: um caminho ‘’fácil’’ para abandonar a pobreza. Acima de tudo, Round 6 propõe um cenário em que sujeitos completamente endividados encontram uma maneira de restabelecer sua vida financeira, antes ‘’deteriorada’’.

A série aborda, sobretudo, as injustiças que os jogadores têm de enfrentar para trilhar esse caminho: idade, opressão, habilidade, etc. A moralidade também é uma questão pertinente, abordada no plano de fundo da série. A todo momento, os jogadores têm incentivos para corrupção de si mesmo e de suas ações, visando a sobrevivência ou diminuir os obstáculos do trajeto. O autor propõe uma alusão democrática ao jogo e demonstra com profundidade as desigualdades que o sistema produz, levando ao espectador, a comoção. Em diversos momentos, com os fatos ocorridos, torna o espectador em torcedor, trazendo a participação para fora das telas. Essa característica, talvez, seja uma das mais soberanas para o sucesso mundial da série, que tem esse caráter apelativo.

É natural ao ser humano comover-se com situações de injustiça ou demonstrações de fraqueza. Ao observar indivíduos “mais capacitados” tirando vantagens desleais acima dos ‘’menos capacitados’’, é natural que nossos sentimentos morais nos levem a entender – ou apontar – o erro das ações. Essa sensação torna-se ainda mais evidente e pulsante quando essas diferenças são promovidas de maneira sistemática, levando à morte de indivíduos, como apresentado na série.

Quando seres humanos de caráter, vida e critério totalmente  distintos, são colocados sob a ótica igualitária, onde todos são -ou deveriam ser – iguais, pelo simples fator econômico que os assemelha, não há maior desigualdade do que essa. O fato é que seres humanos são naturalmente desiguais: um bandido não tem o mesmo senso moral que um cidadão ‘’de bem’’; e muito menos um velho, em geral, têm a mesma capacidade atlética de um jovem adolescente.

Em Round 6, observa-se como essas questões são ignoradas em prol da ‘’primazia’’ de uma igualdade frustrada. Até mesmo as refeições ignoram as diferenças físicas de cada jogador, bem como a adoção de cada jogador de uma ‘’marca’’ (número) genérica. A desconfiança generalizada e o medo de ser assassinado repentinamente leva jogadores a formarem alianças com os ‘’mais fortes’’, que são mais capacitados de realizar a própria proteção, ou coerção de terceiros, ‘’marginalizando’’ os mais idosos, mais fracos, e, por vezes, o sexo feminino.

Observa-se, na série, como os jogadores são incentivados a ignorar a moralidade dos seus atos, aceitando apenas seu instinto de sobrevivência como forma de agir. Em pautas ‘’sociais’’, o jogo demonstra a falta de critério de um sistema que se baseia no caráter democrático. Para finalizar o jogo, a maioria deve decidir que parem, mas por que é que a maioria de indivíduos – naturalmente distintos – definem o destino de todos os indivíduos dessa ‘’sociedade’’?

Ao final da série, há a descoberta de que tudo não passava de um ‘’reality show’’, um entretenimento aos ‘’super ricos’’. Nesse cenário, os magnatas apostaram para ver quem sairia vencedor – como em uma corrida de cavalos – enfatizando o caráter cruel do jogo.

A relativização da vida das massas perante os magnatas e o sistema capitalista, nada mais é que o ideal do momento: apontar o dedo para a riqueza é sinônimo de sucesso. A ideia predominante é a de que, para que poucos ganhem, muitos têm de perder; assumindo a proposta de que economia é um jogo de soma zero. Essa ideia ignora toda a geração de riqueza e emprego aos mais necessitados, afinal, o que importa é julgar o acúmulo desenfreado de capital; e nada mais.

Não há nada que gere mais comoção no espectador do que a injustiça escancarada, desenvolvida pela série, com a promoção do cenário onde  milionários despreocupados com a vida controlam o destino dos ‘’miseráveis’. O fato é que, a falsa ideia de que o ‘’rico’’ fica mais rico sem esforço,  às custas da massa ‘’explorada’, vende e engaja. E talvez seja esse o grande segredo do sucesso de Round 6.

A série aborda o que se tem, hoje, por tendência mundial, e isso nos garante que muito mais desse estilo prevalecerá. E não apenas no curto prazo, atingindo tanto o campo do cinema e das artes, como o campo das ideias.

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