Psicólogos e antropólogos perceberam que em todas as culturas humanas existem duas dimensões sociais claras: hierarquia e afinidade/proximidade.

Em nosso dia a dia conseguimos facilmente perceber nosso grau de distanciamento ou afinidade com outras pessoas, fenômeno notável na linguagem, mesmo em idiomas que não tem pronomes específicos para expressar intimidade (como no francês língua na qual “tu” é utilizado para se referir àqueles mais próximos de você e “vous” para os mais distantes socialmente) acabam se desenvolvendo outras formas de demonstrar essa relação, como quando usamos “senhor/senhora” para conversar com uma pessoa com quem temos menos proximidade.

Já com relação a hierarquia também identificamos facilmente a quem devemos respeitar e obedecer e sobre quem temos alguma autoridade.

Recentemente, alguns estudiosos norte-americanos, entre eles os psicólogos Jonathan Haidt e Paul Rozin, evidenciaram a existência de uma terceira dimensão, que parece, mas veja bem apenas parece, ter sido esquecida no cotidiano da sociedade ocidental: a dimensão do sagrado/divindade.

Para demonstrar a existência dessa dimensão, os pesquisadores conduziram uma série de entrevistas em Bhubaneswar, uma cidade cheia de templos sagrados para os hindus e que demonstra claramente em sua sociedade formas de convívio que vão além das dimensões de afinidade/proximidade e hierarquia.

Por exemplo, Haidt relata o seguinte “Na condição de alguém que não seja hindu, obtive permissão para visitar os pátios dos templos; se eu retirasse meus sapatos e quaisquer itens de couro (o couro é poluente), geralmente eu podia entrar na ante sala do templo. Podia olhar para o santuário interno (…), mas se tivesse cruzado o limiar a fim de me juntar ao padre brâmane dentro dele eu teria poluído e ofendido a todos.” o que motiva essa sensação de ofensa e de poluição muito clara para os membros da religião é algo além das dimensões de hierarquia e da proximidade. 

Os psicólogos não precisavam ter ido tão longe para encontrar a dimensão da divindade, qualquer pessoa que vive em uma comunidade cristã dentro de uma metrópole ou no interior percebe a influência do sagrado na sociabilidade, ela apenas não é tão gritante a nossos olhos quanto os costumes do hinduísmo, pois é mais sutil e menos ritualística. 

Todavia, creio que eles sequer precisavam ter saído das suas respectivas universidades onde iniciaram as pesquisas sobre moralidade, pois o que ocorreu em nossa civilização não foi um esquecimento ou uma supressão dessa dimensão religiosa do ser humano, mas sim uma substituição: o politicamente correto assumiu o lugar do sagrado.

Não há diferenças. Assim como um hindu não convive com uma pessoa impura por medo de se contaminar, os defensores do politicamente correto não suportam conviver com quem não se submete a seus ideais, pois também possuem um certo medo de contaminação, como eles frequentemente dizem, “se tem 4 pessoas sentadas em uma mesa e 3 são racistas, então tem 4 racistas na mesa”. O contrário também se observa, no hinduísmo pessoas “mais puras”, como os sacerdotes brâmanes, são admiradas e respeitadas, na religião secular ocidental, os mais puros ganham o rótulo de “fada sensata”, sendo respeitados e de modo semelhante aos sacerdotes ganha certo poder de ditar normas e aconselhar os membros do culto.

Da mesma forma que um católico ficaria extremamente ofendido caso visse um ícone sagrado ser profanado, um politicamente correto iria a loucura se visse alguém ateando fogo a uma bandeira LGBT.

E quem é o deus dessa religião secular? A igualdade, um ente inalcançável, mas para o qual vale a pena sacrificar tudo. 

Talvez a única diferença entre o politicamente correto e as demais crenças seja: as religiões tradicionais toleram-se mutuamente, enquanto o politicamente correto tenta se impor por meio do governo de tal forma que, atualmente, é completamente possível fazer uma piada com cristãos ou hindus, mas se você ousar zombar das pautas “progressistas” facilmente terá de pagar uma multa ou até será preso por machismo, racismo, homofobia, transfobia… etc. 

Isto é, atualmente o estado deixou de ser laico, ele tem uma religião clara: o politicamente correto, ofenda essa crença e será perseguido, em último caso, se a justiça não fizer algo a massa de seguidores fanáticos fará e não será punida, o famoso cancelamento.

Felizmente, muitas pessoas têm percebido esse autoritarismo inerente ao movimento politicamente correto o rejeitando e percebendo que esse conjunto de ideias ganha força por parecer ter a verdade suprema e parecer ser hegemônico, mas quanto menos pessoas se curvarem a ele menos força terá, dessa forma, o segredo para acabar com tal movimento autoritário reside na frase do psicólogo canadense Jordan Peterson “Nunca abaixe a cabeça para a multidão e nunca peça desculpas por estar certo”.

Notas

1 O mais irônico é que muito dos que defendem frases como essa também defendem a tese do racismo estrutural, segundo a qual toda a sociedade, portanto todos nós, somos racistas, logo em qualquer “mesa” que você sentar só haverá racistas.

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