Para qualquer brasileiro, mesmo o menos educado em termos da ciência econômica (isso se o que a academia faz hoje possa ser considerado ciência), é bastante latente que a economia brasileira é uma economia extremamente fechada, com pouco fluxo de comércio internacional com o restante do mundo. Para termos vislumbre disso, basta viajarmos para os Estados Unidos, Chile, ou até mesmo para o Uruguai para percebermos que somos feitos de palhaço pelos governantes que nos impõem altos impostos sob o pretexto de proteger nossa economia de agentes internacionais. Este tema, além de tudo, tem tomado novas proporções com a distorcida política industrial do governo Trump.

Entretanto, estes mesmos que fingem nos defender, ao falar que protegem a indústria nacional e, por consequência, os empregos dos brasileiros, na verdade estão destruindo a renda e a possibilidade de maior volume de trocas entre os indivíduos; na realidade estão defendendo apenas os interesses dos industriais locais – pouco competitivos em determinados setores – e que, por meio de interesses corporativos, criam modelo de capitalismo de quadrilha, marcado por mecanismo de ligação intensa entre as empresas e o governo.

A verdade é que toda política protecionista parte de pressupostos errados. Quando um político protecionista nos diz que ao taxar determinados produtos podemos produzi-los aqui através do processo de substituição de importações (método adotado no Brasil desde o governo Vargas), ele acredita que momentaneamente o capital será investido nestas áreas, e que o público local será suprido pelos produtos resultantes dessas novas indústrias.

Esquece ele que a economia está regida pela lei da escassez: a quantidade de capital disponível é limitada, e não é através de déficit/impressão de moeda – já que estes mecanismos não criam riqueza, apenas tomam – que o governo conseguirá o capital necessário para esses segmentos. Assim, com essas novas medidas protecionistas que criam reservas de mercado, o capital acaba por migrar, através das assimetrias geradas pelo governo, de setores competitivos para setores momentaneamente competitivos pela força do estado, resultando em uma menor produtividade do capital alocado e, consequentemente, um “produto nacional” menor.

Além disso, o viés protecionista ignora um pressuposto básico da economia: quando é realizada uma compra de uma empresa de outro país – uma importação – tal é negociada em termos de trocas monetárias; ou seja, para comprar determinado produto, antes devemos ter produzido e vendido algo. Nesse caso, quando se compra algo de outro país, não se está deixando de produzir riqueza, afinal, para que esta compra seja realizada, algo deve ter sido produzido e comercializado antes ou simultaneamente. Logo, comprar de empresas de outro país não diminui nossos empregos nem nossa produção. Na verdade, são justamente as trocas internacionais que possibilitam o crescimento indefinido da economia; afinal, troca-se um mercado local de 200 milhões (caso o Brasil fosse uma economia 100% fechada) por um internacional de 8 bilhões de consumidores, de forma a privilegiar os setores nos quais o Brasil é especializado, e obter-se maiores taxas de retorno para o capital alocado.

Fechar a economia leva somente à pobreza e à miséria. Nesse contexto, o capital migra de setores competitivos para setores com competitividade artificial e momentânea, levando às referidas assimetrias no mercado e a degradação da participação do país na economia internacional, tudo isso movido por preceitos oriundos dos anos 30 e que até hoje se mostraram ineficazes. Por exemplo, um trabalhador americano não vê problema algum em comprar um sapato chinês, afinal, ele já produziu e tem a renda disponível para comprar o sapato, desejando comprar o mesmo produto com o menor dispêndio possível; para ele, tanto faz se o produto for brasileiro, chinês, angolano ou tibetano; isso não importa, visto que quanto mais barato for o produto, melhor será a alocação de seus recursos e, por consequência, maior será sua capacidade de poupança, o que de fato o leva ao crescimento econômico.

Por isso, lembre-se sempre: quando qualquer político aparecer por aí defendendo maiores tarifas protecionistas, ele não está te defendendo, ele não está te protegendo de ninguém. Ele está apenas adotando medidas intervencionistas que agradam somente a setores pouco produtivos da economia e que geralmente fazem uso de mecanismos escusos para ter seus anseios atendidos. O protecionismo não favorece o consumidor, e sim o industrial da FIESP.

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